segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

maldito frasco.

Eu estava na casa da minha avó. Era de manhã, por volta de umas nove horas, haviamos acabado de acordar. Ela disse que iria comprar coisas para o almoço. Eu já sabia que ela não iria realmente comprar coisas para o almoço, vigiando ela pude ver ela pegar o caminho contrario do mercado. Eu sabia. Sabia que ela iria comprar aquele frasco de que ela não vive sem, ai meu coração já se partiu. Quando voltou, voltou com umas sacolas misturadas e pude ver que em uma delas, estava lá, aquele maldito frasco de bebida. Mas eu estava quieta, fingindo não notar e nem ligar pra nada, mas a verdade é que eu estava ligando e notando mais do que ela imaginava, estava magoada por ter que ver uma coisa que desejava não ter visto. Como sempre, ela o escondeu em baixo da cama, o lugar onde ela pensa que ninguem sabe que ela o guarda lá. Tentei me destrair o tempo todo para que ela não notasse nada a respeito disso, acho que consegui. Algumas horas depois ela e minha prima foram preparar o almoço, porque não sei fazer nada que venha a respeito da cozinha, rs. Tudo bem, ela ainda não havia comido, estava esperando eu e minha prima acabar para poder comer. Acabamos e fomos logo pro quarto, fazer nada. Ela ia almoçar, mas antes foi tomar um gole de sua bebida. Logo que ela sai do quarto, pega sua comida e se senta para comer. Fiquei jogada na cama pensando no que fazer a respeito daquele frasco e minha prima deitada do lado, acho que entendendo um pouco do meu pensamento mas ao mesmo tempo não entendendo nada. Deitada, fico olhando pelo cantinho da porta que avista onde minha vó está sentada, reparando cada movimento delicado que ela usa para colocar a comida na boca. E me vem tantas coisas na cabeça, que minha cabeça começa a doer, aquela mesma dor de sempre, aquela mesma dor que sempre vem me atormentar. Estava pensando se iria mesmo fazer a idéia que estava em minha mente ou não... Não tive escolha. Me levantei apressadamente, peguei o frasco embaixo da cama e joguei tudo o que tinha lá dentro pela janela, aquela bebina se misturou com a agua da chuva, por isso o cheiro não ficou forte, ele se foi junto com a bebida. Deixei o frasco em cima da janela mas só que por fora. Fico olhando pra chuva cair enquanto penso no que eu fiz. Eu não tive escolha. Ou era ver ela cair mais uma vez ou era fazer o melhor para o bem dela. Minha prima encosta sua mão no meu braço me olhando com um olhar de piedade, de pena.
- Tadinha, deixa ela beber. Ela usou o dinheiro dela. Tadinha. Tadinha! - ela fala olhando pra minha avó com cara de pena.
Tadinha. Tadinha. Tadinha. Tadinha. Tadinha. Tadinha. Tadinha. Tadinha. Essas palavras ficaram gravadas profundamente em minha mente. Eu não disse nada a respeito, apenas fiquei olhando minha avó comer. Fiquei confusa, não fiz isso por mal, sei que não fiz. Me sinto bem por ter feito isso mas ao mesmo tempo culpada por ter jogado o que ela gosta fora. Mas ela não precisa daquilo, ela acha que precisa para viver mas não precisa. Acho que fiz errado jogando toda a bebida que havia dentro daquele frasco fora. Mas foi para o bem dela. O bem dela faz o meu bem estar. Saio do quarto sentando no sofá ao lado dela, me jogo contra o travisseiro massio que está lá, me jogo como se estivesse acabada, fracassada que fasso com que ela perceba que não estou bem. Ela me olha com um olhar duvidoso tentando entender o motivo louco de do nada eu ter me jogado lá. Mas eu nego o olhar, nego as palavras, nego tudo que venha a ela achar que joguei toda a bebida dela fora. Ela desiste de tentar entender pelo olhar e volta a olhar para a TV. Percebo que minha prima ainda está no quarto, e uma pergunta imensa e dolorosa invade minha mente (Fazendo o que?). Volto para o quarto afim de conferir o que ela está fazendo que não sai do quarto. Abro a porta e vejo que ela está deitada no escuro. Assim que eu abri a porta pude ver seu olhar triste e desapontado mas que mudou por um segundo, quando ela me viu, quis desfarçar com um sorriso que não conseguiu me convencer que era real. Logo eu sai e deitei no sofá denovo. Minha avó perguntou o que ela fazendo. Eu disse que não estava fazendo nada, mesmo sabendo o que realmente ela estava fazendo. Ela estava pensando nele. No pai dela que no caso, é meu tio e que no caso, é o filho da minha avó. Que não está mais aqui. Ela estava pensando de como minha avó estaria bebendo menos se ele estivesse aqui. Ela estava pensando de como ela bebe para tentar fugir de tudo mas não consegue. Isso fez com que eu me sentisse culpada, muito culpada. Não culpada por ele não estar mais aqui, mas culpada por ter feito ela lembrar, ou melhor, ter feito ela pensar em tudo isso. Estou confusa. Minha cabeça dói, sinto minha alma arder como fogo. Não consigo esquecer o que passei essa manhã de terça-feira.